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Suíte Havana, filme do cubano Fernando Pérez, está entre o documentário e a ficção. Sem usar diálogos, o diretor narra um dia na vida de dez pessoas reais na capital Havana, interpretadas por elas mesmas.
O longa-metragem terá sua primeira exibição no Festival de Cinema do Rio de Janeiro nesta quinta-feira, às 18h30 e às 23h. Haverá reprises na sexta (19h) e no sábado (16h).
Pérez constrói a vida de uma cidade de arquitetura precária, repleta de casarões neoclássicos detonados, onde faltam instalações hidráulicas e transporte adequado, mas cujo cotidiano pulsa com uma energia e dignidade impressionantes.
Uma sóbria bravura brota desde as primeiras imagens do trabalhador de um hospital que transporta um intrigante par de sandálias femininas altíssimas no guidão de sua bicicleta, rumo ao sapateiro.
O sapateiro será visto mais tarde ostentando um vistoso par de sapatos brancos e penteado impecável num animado salão de baile.
O jovem Ernesto, que exibe nas paredes de cada cômodo de sua casa um retrato do Ernesto "Che" Guevara, a quem deve o nome, divide sua força muscular entre o ofício de pedreiro e o balé clássico.
Pelas fachadas descascadas e automóveis antigos, Havana parece a porta de um túnel do tempo. Mas a impressão de paralisia temporal se desfaz justamente na pele destes inúmeros seres que conduzem o cotidiano febril e emotivo da cidade - como a velhinha aposentada que vende amendoins na rua e a terna relação entre o menino com síndrome de Down e seu pai, um arquiteto viúvo.
Sem nenhum apelo ao slogan fácil, Suíte Havana afirma a perseverança humana destes cubanos nada misteriosamente parecidos com os brasileiros, em seus semblantes mulatos, no arroz com feijão nos pratos e numa sintonia direta com a música e o esporte - ainda que os passos e ritmos aí não sejam exatamente os mesmos.
O filme fez enorme sucesso de público e de crítica em Cuba, onde alguns setores se surpreenderam pelo fato de o governo de Fidel Castro ter permitido a exibição de um trabalho que mostra de maneira tão realista as dificuldades do cotidiano dos moradores da bela e decadente capital cubana.
"Eu queria provocar uma reflexão sobre o sentido da vida, o valor das pequenas coisas", disse o diretor, ganhador do prêmio especial do júri no Festival de Sundance de 1999 por Viver é Assoviar.
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