Rogério Domingues/Especial para Terra |
Patrícia Pillar foi prestigiar o novo filme de Sérgio Rezende |
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A idéia de um documentário com inúmeras cenas de flores, plantas e jardins inicialmente remete a algum programa do Discovery Channel, certo? Até pode ser, mas o tratamento dado pelo diretor Sérgio Rezende concede ao assunto uma abordagem interessante e repleta de delicadeza. O Cinema é Meu Jardim estreou no Odeon com sala quase lotada e a recepção entusiasmada do público foi um termômetro muito favorável ao filme.
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"Estamos reconstruindo o cinema", diz Pillar
Contando com um texto inspirado de Sérgio Buarque de Holanda e com a locução precisa do próprio Sérgio, o filme vai além de bonitas imagens de plantas. A partir da temática do Jardim do Éden, segundo a bíblia, o diretor elabora uma narrativa sobre a relação das flores e do paraíso com o mundo de hoje. São apontadas influências desses dois conceitos nas artes plásticas (através de Monet e Redouté), música (de Puccini ao rock dos Titãs), arquitetura (Burle Marx) e no cotidiano das pessoas. De uma grande floricultura comercial no interior de São Paulo a um jardim escondido em uma favela, Rezende aproxima vidas através das flores.
"Eu acho que a gente está vivendo em um mundo desesperado. Todo mundo tem a ilusão do paraíso. Acho que o paraíso seria um lugar onde todos pudessem viver com prazer e alegria. Eu fui pegando onde tudo começou, na idéia da bíblia, do Éden, e fazendo ligações com a nossa vida atual. O filme é uma tentativa de brincar com essas coisas", explicou o diretor.
Outro ponto favorável é a fuga de clichês ecológicos. Quando trata das flores, o filme não abre mão de belas imagens da natureza, mas também tem uma pesada crítica social. O paraíso utópico e o colorido dos jardins também cedem lugar ao cinza das grandes cidades, com o abandono, miséria e caos. Lixões decrépitos e depoimentos contundentes de pessoas que vivem neles concedem ao documentário nuances de reportagem.
Com um histórico de longas bem-sucedidos (Guerra de Canudos e Onde Anda Você), Sérgio mostra habilidade também no comando de um documentário. "É liberdade completa. A criação é o que vale nos filmes, não importando se você vai contar com atores ou com a realidade", comentou. "Cinema é que nem sorveteria: tem que ter muitos sabores. A pluralidade de propostas é um das riquezas dessa arte. Ao mesmo tempo em que as pessoas querem a fantasia, elas querem a realidade. Ficção e documentário se completam".
O próximo projeto será uma ficção - mas não tão fantasiosa assim. O objetivo é levar para as telonas a trágica história de uma das personagens mais conhecidas do período da ditadura. "O próximo projeto é o filme Zuzu Angel. Estou escrevendo o roteiro com o Marcos Bernstein e, se Deus quiser, em julho de 2005 a gente começa a rodar".
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