EFE Jorge Drexler disse que "os critérios da Academia não são artísticos"

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Drexler, em nota oficial, diz que "gostaria de poder cantar"
"É um desrespeito ao Drexler", diz Walter Salles

Drexler é candidato ao Oscar de melhor canção original por Al Otro Lado del Rio, da trilha sonora do filme Diários de Motocicleta, do diretor brasileiro Walter Salles.

Ele ganhou notoriedade nos últimos dias por causa da "censura" - como ele mesmo prefere definir - imposta pelos organizadores da 77ª edição dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que escolheu a dupla Antonio Bandeiras (sim, o famoso ator espanhol) e Carlos Santana para interpretar, ao vivo, a canção na festa do Oscar.

"Eles precisavam de alguém conhecido para cantar. E eu não sou conhecido nos Estados Unidos, sei disso. É aquele velho estereótipo latino-americano de que é tudo igual, de que tanto faz uma música da Costa Rica, do México ou do sul da Argentina. É uma falta de critério", afirmou.

"Recebi uma notícia ruim e uma notícia boa (com a indicação da música). Mas a boa é muito maior do que a ruim. Pela primeira vez na história uma canção escrita em espanhol é indicada ao Oscar. É uma grande alegria que essa música seja minha", contou Jorge Drexler.

O músico disse que ficou "triste" quando soube da escolha de Banderas e Santana porque gosta muito de fazer performances ao vivo. "Mas os critérios de produção do show da Academia não são artísticos", constatou Drexler, de maneira pouco agradável.

"Quando disseram que não seria eu, propus: então coloquem o Caetano Velloso, o que seria uma gigantesca honra para mim. Mas eles estavam procurando uma estrela de outra dimensão midiática", explicou.

Drexler reiterou que sequer foi consultado, pela Academia ou pelos artistas escolhidos, sobre a maneira que ele gostaria que Al Otro Lado del Rio fosse executada no Oscar. Mesmo assim, Drexler contou que foi surpreendido pela maneira como Banderas tratou do assunto. O ator espanhol o procurou e disse que não queria se indispor com ninguém.

"Ele mesmo (Banderas) disse que preferia que eu cantasse", relatou. "Santana não me procurou. Ele é de outro mundo. Respeito ele como músico, mas ele vive em outro mundo. Não sei qual", completou.

Mesmo contrariado, Drexler contou que a dupla Banderas-Santana "foi, de longe, a melhor que propuseram". A lista de candidatos para executar Al Otro Lado del Rio, segundo ele, incluía o espanhol Enrique Iglesias. "Não faço julgamento dele (Iglesias), mas ele não tem a ver com a canção."

"Gosto sempre da conciliação, não do conflito. Mas aqui eu não poderia ficar calado", desabafou Drexler, que não se decepcionou sozinho com todo o incidente. "Walter ficou muito triste pelo fato, mas entendemos que isso (a festa) não representa a canção, o filme. É outro mundo, são outros códigos."

Expectativas
O indicado ao Oscar prefere nem analisar as chances de Al Otro Lado del Rio levar a estatueta. "Já foi muito surpreendente ser indicado. Eu não estava esperando. Não consigo entrar na visão dos jurados", contou.

Polêmicas à parte, Drexler começa agora a ver seu trabalho ganhar repercussão mundial. O novo álbum dele, Eco, foi lançado na América Latina e nos Estados Unidos. O CD será relançado no Brasil em março, desta vez contando com Al Otro Lado del Rio como faixa bônus.

O uruguaio, que fará um show para convidados no FM Hall, no Rio de Janeiro, em 8 de março, confirmou que tem um carinho especial pelo Brasil, onde ele já tocou cinco vezes - "quatro com ingressos esgotados", faz questão de frisar.

"Sou realmente um admirador da cultura e da canção do Brasil, desde Noel Rosa", derreteu-se Drexler, falando num português muito fluente. "Acho que vou tocar no Brasil muitas vezes este ano."