Festival de Gramado


Festival de Gramado

Quarta, 15 de agosto de 2007, 08h25 

Em Gramado, curtas-metragens variam de gêneros e estilos

Danilo Lima
Direto de Gramado
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Começou nesta terça-feira na 35ª edição do Festival de Cinema de Gramado, na Serra Gaúcha, a mostra competitiva dos curtas-metragens, onde os quatro primeiros filmes exibidos mostraram que a comissão do evento conseguiu reunir diversos gêneros e estilos para a competição.

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O maior diferencial deste ano, é que os curtas não são mais exibidos durante a programação noturna. O novo horário da mostra é às 17h e muitas turmas de escolas e curiosos da região compareceram ao cinema para acompanhar uma das sessões, gratuita.

Perto de Qualquer Lugar, da diretora Mariana Bastos, abriu a categoria com a história de uma menina que perde a virgindade com um amigo após uma noite de farra e se apaixona por ele, sem perder as esperanças de que um dia esse amor deixará de ser platônico.

A linguagem do filme surpreendeu alguns críticos da platéia durante a sessão. O argumento é todo construído em cima do vocabulário contemporâneo dos jovens, sem cair em diálogos forçados, como acontece em seriados e comédias do gênero.

Mariana conta que se utilizou das próprias experiências para criar as diferentes situações da trama. "Ele nasceu da minha vontade de fazer algo voltado aos jovens, da minha vontade de ver coisas que eu queria. O filme acabou focado nas relações humanas, nossas expectativas", explica.

Mariana petence a um promissor time de jovens diretores, liderados por Esmir Filho, que em 2006 ganhou o Kikito de Melhor Curta 35 mm com Alguma Coisa Assim, e composto também por Rafael Gomes, um dos criadores do Tapa na Pantera e diretor do curta Alice.

Em Gramado, Esmir também disputa a estatueta com o curta Saliva, que teve pré-estréia em São Paulo no último mês, mas a rivalidade entre eles é inexistente. Ambos fazem parte da mesma corrente de amigos, que têm o cinema como paixão comum.

A Psicose de Valter, de Eduardo Kishimoto, segundo filme da competitiva, é um "delírio" sobre um personagem documental, o diretor de filmes pornô Valter José, que paga os serviços de uma prostituta para saciar seus prazeres. Em uma mesa de bar, aparente mal freqüentado, ele explica a filosofia de Kant a um amigo que pediu ajuda, cujo diálogo interage com toda a ação do filme.

O curta começa todo em um plano seqüência, com um notável "passeio" de um de seus protagonistas por uma das mais famosas vias de São Paulo, a rua Augusta.

Dá pra notar que parte da produção foi improvisada, já que as pessoas passam normalmente pelo local, quase sem notar a câmera que segue o ator e todos os seus "personagens", como camelôs, e pedestres destacados no vídeo.

Uma outra característica do diretor é usar diálogos de fundo, quando outra cena é mostrada ao espectador. Com esse recurso, ele aproveita para situar os dois protagonistas, que no início do curta não se encontram.

Seguindo por um lado completamente diferente aos dois primeiros filmes apresentados, Oficina Perdiz, de Marcelo Díaz, é um documentário sobre uma oficina mecânica que há alguns anos começou a funcionar como um teatro comunitário, com cadeiras, palco e cenografia improvisada pelo próprio dono do projeto, um apaixonado e "chucro" homem da cidade de Brasília.

"A oficina existe e fica em um pedaço não tão conhecido da capital. Infelizmente, o espaço está com certa dificuldade para poder continuar aberto. É importante ou não para Brasília", explica o diretor.

Como usa recursos culturais e não paga impostos, a oficina de Perdiz não tem o alvará de funcionamento e já tentou ser demolida pelos governadores do Distrito Federal. No entanto, uma movimentação populacional impediu que essa medida fosse tomada.

Apesar das conquistas do local, a disputa pelo patrimônio da oficina ainda está em pauta. "Estão me aborrecendo porque eu entro em um espaço considerado público e o público é dos políticos", ironiza Perdiz, um senhor de idade que resolveu ter a ousada idéia de transformar a oficina em um teatro e viajou a Gramado pela primeira vez para promover o documentário.

Oficina Perdiz ainda desfruta de uma grande vantagem: seu personagem principal, o próprio Perdiz, conquista a rápida simpatia do público, que se encanta por seus comentários ácidos e a forma doce de tratar as pessoas.

O último filme da mostra de curtas desta terça-feira foi Balada do Vampiro, de Estevan Silveira e Beto Carminatti, com as histórias de um personagem dos contos do escritor Dalton Trevisan, um vampiro que narra suas fantasias.

O curta é todo focado na sensualidade feminina, seja por meio da beleza agressiva ou sutil. A primeira cena mostra uma mulher obesa se trocando com os seios de fora, enquanto o vampiro Nelsinho, um "Don Juan de Marco", segundo afirmação do diretor, observa e faz comentários maldosos sobre os desejos sexuais das mulheres.

O que se segue aí são cenas de mulheres desfilando pelas ruas, passando maquiagem, exibindo seu rebolado e todas as outras características que as fazem parecer atraentes à sociedade.

A mostra de curtas-metragens ainda segue por mais dois dias durante o Festival de Cinema de Gramado. Na tarde desta quarta-feira, serão exibidos seis trabalhos no Palácio dos Festivais.

Redação Terra