Michael Moore no encerramento do festival de Cannes 2004
Foto: Reuters
Um dia depois de o filme ganhar a Palma de Ouro, o prêmio máximo do Festival de Cinema de Cannes, observadores previram que o polêmico documentário será sucesso de bilheteria, apesar de nem todas suas primeiras resenhas terem sido favoráveis.
"Acho que será um sucesso imenso", disse o veterano documentarista D.A. Pennebaker, cujos trabalhos incluem The War Room, saga de 1992 sobre a campanha eleitoral norte-americana que acabou indicada ao Oscar.
Em Fahrenheit 9/11, Moore se volta contra a maneira como Bush lidou com o Iraque e a guerra ao terror, além de traçar vínculos entre a família Bush e alguns sauditas conhecidos, incluindo familiares de Osama bin Laden.
O filme foi ovacionado em pé em sua estréia mundial, em Cannes, mas nem todos ficaram bem impressionados.
Segundo o The New York Times, o diretor de comunicações da Casa Branca, Dan Barlett, teria dito que o documentário é "tão excessivamente falso que nem sequer merece ser comentado".
O jornal do setor de entretenimento Daily Variety descreveu Fahrenheit 9/11 como "flagrante panfleto cinematográfico da campanha 2004" e disse que o filme "não fornece fatos evidentes, nem traça quaisquer conexões incriminadoras que já não sejam do conhecimento de qualquer pessoa razoavelmente bem informada".
Isso pode não ter importância para os fãs do diretor dos documentários Roger and Me e Tiros em Columbine, este último contra o lobby das armas. Na verdade, Moore deitou as bases de Fahrenheit 9/11 um ano atrás, quando aceitou o Oscar por Columbine e fez um discurso contundente contra Bush na televisão mundial.
Algumas semanas atrás ele voltou às manchetes, queixando-se de que a Disney impedira sua subsidiária Miramax de distribuir Fahrenheit 9/11. A Disney disse que não quis ter seu nome associado a um filme politicamente sensível em um ano eleitoral e declarou que Moore já sabia disso havia um ano.
Os presidentes da Miramax, Harvey e Bob Weinstein, estão comprando o filme com seu dinheiro próprio e buscando uma distribuidora, o que não deve ser problema.
Michael Silberman, da IDP Distribution, que recentemente lançou o documentário Super Size Me, sobre os perigos do fast-food, acredita que graças ao dom de autopromoção de Michael Moore, "todo o mundo nos EUA vai ficar sabendo de Fahrenheit 9/11, se é que já não sabe."
Tiros em Columbine é o documentário mais bem sucedido da América do Norte, com US$ 21,5 milhões de bilheteria. Segundo executivos do setor, Fahrenheit deve no mínimo alcançar o mesmo patamar.
Moore já disse que quer que seu novo filme saia o quanto antes, para que possa influir sobre a eleição presidencial de novembro e mandar Bush de volta ao Texas.
Para a apresentadora de rádio Kim Serafin, de Los Angeles, sua aspiração pode ser exagerada.
"Moore vai receber muitos aplausos de pessoas que já gostam dele, acreditam nele e acham que ele é um grande cineasta", ela ponderou.
"Quanto às pessoas que discordam, elas não iriam assistir a seu filme de qualquer maneira."
Por outro lado, a vitória em Cannes conferiu legitimidade a Fahrenheit, e o filme pode acabar atraindo pessoas que não gostam de Moore, mesmo que seja apenas para que possam "conhecer o inimigo", disse o presidente da Exhibitor Relations, que compila dados sobre bilheterias, Paul Dergarabedian.
"As pessoas vão querer saber do que trata, o porquê de tanta falação. O filme vai atrair ainda mais por estarmos num ano eleitoral, todo o mundo está em clima político", disse ele.
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